29/08/09

Equinocios de Al Berto

Corri para o telefone mas não me lembrava do teu número
queria apenas ouvir a tua voz
contar-te o sonho que tive ontem e me aterrorizou
queria dizer-te porque parto
porque amo
ouvir-te perguntar quem fala ?
e faltar-me a coragem para responder e desligar
depois caminhei como uma fera enfurecida pela casa
a noite tornou-se patética sem ti
não tinha sentido pensar em ti e não sair a correr para a rua
procurar-te imediatamentecorrer a cidade duma ponta a outra
só para te dizer boa noite ou talvez tocar-te
e morrer.
Al Berto, O Medo

26/08/09

Equinocios de desespero

Não estou certo de nada. Gostava, contudo, de acreditar que existes, para te esperar sem angústia, talvez pôr a música mais baixa, ouvir os vizinhos a conversar, preparar coisas para te dizer, ler um livro, vestir-me. Gostava de ter por ti um amor convencional, sem ter de o imaginar. Com um jantar pelo meio, um passeio no mais popular do parque, a ver cisnes e a fugir dos cavalos. Mas não estou certo de nada, e mais fácil é fechar as portadas, escolher um cobertor quente e fazer com que vente mais e mais lá fora.

Valter Hugo Mãe

Equinocios de Miguel Sousa Tavares

Tenho medo de uma coisa que tu não temes: que, depois de conhecer a liberdade, de ter viajado e vivido em países livres, não me volte a habituar a viver de outra maneira. Tenho medo que a liberdade se torne um vício, enquanto que agora é apenas uma saudade.

Miguel de Sousa Tavares, in Rio das Flores.



Eclipse

Minha alma está cansada da minha vida.
Fernando Pessoa

21/08/09

Equinocios de solidão

P'ra que não façam pouco
Procuro não gritar
A quem pergunta minto
Não quero que tenham dó
Num egoísmo louco
Eu chego a desejar
Que sintas o que sinto
Quando me sinto só.
Mariza
.

20/08/09

Equinocios de crescimento

Eu aprendi que para se crescer como pessoa é preciso me rodear de pessoas mais inteligentes do que eu.

18/08/09

Equinocio de esperança

A vida inteira esperei por alguém como tu
Mesmo sabendo que não sei como és
E mesmo que ainda não se tenha passado
a vida inteira.

Jorge Reis-Sá

16/08/09

Equinocios de silêncio

o telefone raramente toca, já nem me lembro do som da minha campainha. a unica coisa que faz barulho na minha vida é o despertador que me acorda todos os dias para mais um dia. um dia que não faz qualquer sentido sem ti, sem o teu toque - já que estamos a falar de sons - consegues ouvir o meu coração a chamar por ti ? consegues ver a falta que me fazes ? (acho que não)
Porque se soubesses de certeza que vinhas a correr para mim, tocavas mil vezes à campainha, ligavas me mil vezes para o telemovel - numa barulheira imensa- eu abria a porta e tu com um simples abraço roubavas me todo o silêncio da tua ausência.
amo-te não sei porquê.

Equinocios de medo

Pouco mais há a dizer, caminho largando os últimos resíduos da memória. fragmentos de noite escritos com o coração a pressentir as catástrofes do mundo. a grande solidão é um lugar branco povoado de mitos, de tristezas e de alegria. mas estou quase sempre triste. algumas fotografias revelam-me que noutros lugares já estivera triste, por exemplo, no fundo deste poço vi inclinar-se a sombra adolescente que fui. água lunar, canaviais, luminosos escaravelhos. este sol queimando a pele das plantas. caminho pelos textos e reparo em tudo isto. o que começo deixo inacabado, como deixarei a vida, tenho a certeza, inacabada. o mundo pertenceu-me, a memória revela-me essa herança, esse bem. hoje, apenas sinto o vento reacender feridas, nada possuo, nem sequer o sofrimento. outra memória vai tomando forma, assusta-me. ainda quase nada aconteceu e já envelheci tanto. um jogo de estilhaços é tudo o que possuo, a memória que vem ainda não tem a dor dentro dela. as fotografias e os textos, teu rosto, poderiam projectar-me para um futuro mais feliz, ou contarem-me os desastres dos recomeçados regressos. mas, quando mais tarde conseguir reparar que a vida vibrou em mim, um instante, terei a certeza de que nada daquilo me pertenceu. nem mesmo a vida, nenhuma morte, na mesma posição, reclinado sobre meu frágil corpo, recomeço a escrever, estou de novo ocupado em esquecer-me. a escrita é precária morada para o vaguear do coração. resta-me a perturbação de ter atravessado os dias, humildemente, sem queixumes. anoitece ou amanhece, tanto faz.
Al Berto, O Medo

Crises de identidade

ninguém é quem queria ser
eu queria ser ninguém

Manuel Cruz
Foge Foge Bandido

Equinocio de amor

Eu sei, parece-te que perdi o fio à meada, mas não. Tive de fazer parágrafo porque a pergunta pedia-me que te olhasse nos olhos e sabes que me perco sempre em qualquer dos lugares onde guardas a ternura.

Sandra Costa

Equinocios de Tangerina

um vapor lilás imenso e transparente.
Al Berto


E é assim que tudo começa...