'' Quando o vento se levanta e passa,
tua cabeça adormecida põe-se a brilhar.
Em redor dela um halo de sombra onde
a minha mão entra, vagarosamente,
pedindo-te um Sinal.
Procuro o rosto com os dedos afiados pelo desejo.
Procuro o rosto com os dedos afiados pelo desejo.
Toco a alba das pálpebras que, de súbito, se abrem para mim.
Um fio de luz coalha na saliva do lábio.
Ouvimos o mar,
Ouvimos o mar,
como se tivéssemos encostado a cabeça ao peito um do outro.
Mas não há repouso nesta paixão.
O dia cresce, sem luz e os pássaros soltam-se do pólen dos sonhos,
embatem contra os nossos corpos.
Nada podemos fazer.
Um risco de passos ensanguentados alastra pelo chão da cidade.
Nada podemos fazer.
Um risco de passos ensanguentados alastra pelo chão da cidade.
A noite cerca-nos, devora-nos. Estamos definitivamente sozinhos.
Começamos, então, a imitar a vida um do outro.
Começamos, então, a imitar a vida um do outro.
E, abraçados, amamo-nos como se fosse a ultima vez...
O tempo sempre esteve aqui,
O tempo sempre esteve aqui,
e eu passei por ele quase sempre sozinho.
No entanto, recordo:
No entanto, recordo:
deixaste-me sobre a pele um rasgão que já não dói.
Mas quando a memória da noite consegue trazer-te intacto,
fecho os olhos, o corpo e a alma latejam de dor.
Dantes, o olhar seduzia e matava outro olhar.
Dantes, o olhar seduzia e matava outro olhar.
Agora, odeio-te por não me pertenceres mais.
Odeio-te.
Abro os olhos.
Regresso ao meu corpo e odeio-te.
E, quem sabe se no meio de tanto ódio não te perdoaria
- mas ambos sabemos que o perdão não existe.
Se fugias, perseguia-te.
Se fugias, perseguia-te.
Mas o olhar começava a cegar.
Sentia-te, já não te via.
E o pior é que o tacto também esqueceu, rapidamente,
a sensualidade da pele e o calor do sexo.
O rosto aprendido de cor.
Hoje, tudo se sobrepõe.
Hoje, tudo se sobrepõe.
Nomes, rostos, gestos, corpos, lugares...
um montão de cinzas que me deixaste como herança.
Não devo perder tempo com o ciúme.
Não devo perder tempo com o ciúme.
A paixão desgastou-me.
E nunca houve mais nada na minha vida - paixão ou ódio.
Só isto: se me aparecesses agora, tenho a certeza, matava-te."
Só isto: se me aparecesses agora, tenho a certeza, matava-te."
Al Berto
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