04/11/09

Equinocios de emergência

Não eram essas palavras que eu esperava ouvir quando me ligaste. Um coração preenchido de vazio recorda a lembrança sobressaltada e de repente começa a doer. Uma dor que começa no peito e se alastra uma dor que corrói por dentro - uma dormência.
Como é que se diz a alguém que o pai morreu? Que se fartou de sonhar e fugiu lá para cima, para as estrelas? Pior que isso é como é que se recebe essa noticia?
Não paro de pensar em ti, de como te queria abraçar e dizer que ele de certeza que esta do outro lado do mar, na eternidade, em paz - queria mesmo te abraçar. Penso e repenso, será que não havia estrelas suficientes no céu? Tinhas de ir para lá tu? Logo agora? Mas porque?
Como é que as coisas voltam a ser o que eram e voltam a fazer sentido? - nunca voltam.
A vida adora puxar-nos o tapete e desta vez puxou-o com uma agressividade desmedida. Porque é que as pessoas não têm oportunidade de se despedir e dizer o que sentem antes de irem flutuar sobre as nuvens? Não é justo - também nunca ninguém disse que era. Até quando é que as pessoas que amamos vão tão cedo para as suas constelações e aqui neste vazio ficam só buracos negros? - até quando? - Porque é que as pessoas que partem não nos podem visitar de vez em quando? Juro que não percebo porque é que inventaram a saudade. Ainda não consigo escrever sobre isto e não chorar. Eu sei que as estrelas são para miúdos, mas é a única maneira de me sossegar a alma cor-de-rosa de criança inquieta. Estamos todos presos neste labirinto negro disfarçado de jardim de papoilas onde a porta é um clarão, um vapor lilás imenso e transparente, que nós cega e aí sabemos e percebemos que conseguimos, chegamos à nossa constelação - ou então fartamo-nos de procurar a saída entramos em guerra com tudo e todos e saímos pela porta de emergência. É ai nesse desespero que nós vamos embora sem nos despedirmos. Cansamo-nos de procurar a magia da vida.

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